https://www.youtube.com/watch?v=1criBDo-vK4
Abria os olhos penosamente... Uma figura difusa movia-se, separada de mim apenas por um pequeno vidro dentro da minha sepultura áquatica... “Onde estou?...” perguntava-me eu antes de adormecer novamente, mergulhando naquelas águas, naquele sono mais uma vez.
O som de uma porta a abrir de ronpante fez me acordar novamente. Respirei um pouco, criando pequenas bolhas que ascendiam. Quanto tempo teria passado desde o meu ultimo momento sã? A minha visão já estava a melhorar... Conseguia ver com mais nitidez aquele mundo para alem do vidro. Uma figura alta, com um uniforme branco de cabelos rosa curto passeava-se pela sala, observando os quadros. A outra figura, talvez a que eu conhecia com a mesma mancha difusa, encolhia-se atrás da outra. Talvez medo, talvez receio de algo mal. Senti os olhos do homem altivo a cruzarem-se com os meus. Saberia eu que estava consciente? Tentei gritar, mexer os braços mas não conseguia. O meu corpo limitava-se a flutuar naquele liquido, nem quente nem frio, como se de um objecto em estudo se tratasse.
A sala clinicamente arrumada, com tudo no seu sitio, alterou-se quando vários objectos eram atirados para as suas paredes. Ouviam-se gritos abafados pelo vidro vindos da mesma figura altiva e imperialista. Havia qualquer coisa nele que me intrigava... Um misto de odio e curiosidade por tudo o que estava naquele lado, principalmente ele...
-- LIGA-A! – Um grito... Um grito perfeitamente audivel. Ele estava perto de mim. Conseguia ver o seu sorriso, algo deformado pelo vidro. Um riso algo sinistro, de escarnio... Os seus olhos cor de ambar, analisavam-me de alto a baixo naquela pequena armação de osso... Um choque profundo se abateu no meu corpo. Ergui as minhas mãos e observei tubos a prenderem-se a mim, aos meus braços, ao meu corpo, e a bombearem algo para dentro de mim. A dor era insuportavel... Ergui a cabeça em direcção ao céu. A ultima coisa que me lembro eram das seis luzes brancas vindas do topo do meu caixão aquatico...
Quem sou eu e porque estou aqui? Uma pergunta que me assombrava a mente á já algum tempo na escuridão que era a duvida existencial. Sentia-me debil... Fraca... Mesmo não abrindo os olhos e tendo perdido a noção do tempo sentia em mim que algo tinha mudado... Não sei como... Instinto talvez... Estava consciente? Sim. Mas por quanto tempo? Abri os olhos. Estavam pesados, selados, escondendo a luz do conhecimento, da verdade... Abrir os olhos fora o que me causara todo aquele sofrimento. Mas, a minha curiosidade, a necessidade da luz... era mais forte. Bem, aqui vai algo... Abri os olhos como conseguia. Olho meio aberto, entreaberto espreitando o que estava do outro lado do vidro. Algo me alarmou numa forma calma e segura. Quanto tempo tinha passado desde o meu ultimo momento lucido? A sala, clinicamente organizada, tinha... mudado. Mudado sim, era essa a palavra. As paredes á muito que já tinham desaparecido, assim como os quadros e outros instrumentos que existiam lá. Tinham caido com o tempo... com uma luta... com ambos? Tudo no mundo exterior tinha mudado, coberto a parede de vidro com pó e esquecimento, mas cá dentro pouco tinha mudado. Continuava presa áquele local. A flutuar naquele liquido. Olhei para cima... apenas uma luz estava acessa, tremendo vagarosamente. Sorri... um gesto estranho sorrir... Um sono pesado voltou a tomar controlo da minha mente e corpo. Queria-me manter acordada... Mas porque? Pisquei os olhos suavemente. Olhei em redor, até onde podia. Tantos mistérios do outro lado... talvez mais logo... talvez um dia...
-- ESTÁ VIVA! – gritou uma voz masculina. Era diferente de todas as outras. Não possuia nem bem nem mal naquele timbre. Diferente das outras... De todas as outras. Abri os olhos como consegui, parecia que tinha ferro a puxar as minhas palpebras para baixo. Vá, tenho de conseguir... Tentar pelo menos... Abri-os novamente. Há minha frente algo de novo, bizarro e interessante. Alguem de aspecto igual aos outros todos, mas com uma nova cara... Uma cara branca, mais vazia, mais dura... Bateu a sua mão contra o vidro e gritava. Retirou algo perto dele e começou a atacar o vidro, os tubos, o mundo exterior...
https://www.youtube.com/watch?v=-38Fu2HULjw
A pequena luz branca que tremia sobre a minha cabeça... morreu. E com ela tudo aquilo que me mantinha fixa áquele local... Mas com a sua morte, começou a minha vida. Aquela droga que me mantinha fixa a uma realidade falsa era quebrada! Aquele sonho findava-se nos cantos da escuridão... Oxigénio... preciso de oxigénio! Não me privarei da vida!
Comecei a tentar sair dali. Aquele caixão aquatico era para mim, sim, mas não naquele momento. Não enquanto eu pudesse lutar. Tentava encontrar maneira de sair. Do outro lado ele tentava socorrer-me tambem. Atacava o vidro como se uma vida dependesse disso... e dependia. Uma subita descarga de adrenalina corria por mim, impulsionando-me para cima, para o que era luz... Empurrava o tecto com o meu corpo, mas estava fixo, preso pelo tecto desabado. Afundei novamente e procurava alguma luz nele. Mas aquela mascara... Fria e sem olhar, empurrava-me para trás. Seria sensato sair para aquele mundo, sem saber o que ele me queria? Não interessava... pelo menos sempre morria a tentar... Comecei a dar murros no vidro, lentos, agitando a água... gastando-me mais oxigénio. Oxigénio escasso para mim...
NÃO ME PRIVEM DE OXIGÉNIO!
Todo o meu corpo sentia, pedia, gritava por oxigénio... Mas ele não chegava... era impossivel... Deixei arrastar a minha mão pelo interior do vidro... Senti uma dor lacerante na minha mão direita, mas esta era adormecida pela falta de ar. Olhei para ela... estava branca, dura e fria... Como aquela mascara que olhava para mim quase com um ar barbaro...
Dei mais um murro, e outro... O vidro rachou... não... foi um erro meu... Era inutil...
As minhas energias foram-se... Privadas de mim... Retirei a mascara que antes me ligava ao mundo e me fornecia tudo o que eu queria... Sedativos... Drogas... Dor... Vida...
Puxei-a com força para longe de mim, abri a boca para respirar pela primeira e ultima vez, numa restia de esperança de haver ar algures... Mas não, não havia. Mas havia algo novo para mim. Uma luz ténue, mas luminosa surgia perto da minha boa. Parecia prata pura... Com as minhas ultimas forças, expirei e essa pequena bola de energia foi projectada... Mergulhei mais uma vez na escuridão... desta vez era permanente...
-- Estás bem?! Responde! – dizia uma voz... Eu reconhecia... Num movimento mecanico todo o meu corpo se ergeu. Os meus olhos abriram-se, os meus pulmões aclamavam ar...
-- Parece que sim... – respondi eu pela primeira vez desde á muito tempo...
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Fui o 1º a fazer um filler... na na na nananana =P