Tinha chegado à Loja Urahara.
“Finalmente”, pensou Yǒng Gǎn, “já estava a ficar farto de ouvir o raio do peluche”.
De facto, Kon estivera a chateá-lo durante todo o caminho. O peluche, que ía no seu ombro, falava mal de tudo e de todos, queixava-se de que o Ichigo não o deixava ir para o seu corpo, uma vez que o seu era muito limitado. “Se ele é um peluche quer o quê?”, pensava Yǒng Gǎn. Quando tinha saído da casa de Isshin Kurosaki, este havia-lhe pedido para manter aquela conversa em segredo e não revelar aos seus filhos que ele era ou já tinha sido, um shinigami. Ao sair da casa viu ainda outra rapariga que estava a entrar. Esta quase nem lhe ligou, apenas olhando para ele de relance enquanto entrava com uma bola de futebol debaixo do braço.
Olhou para a Loja Urahara e avançou.
Esta parecia um dojo por fora, o que achou estranho. Independentemente disto, continuou a avançar. Quando chegou à entrada viu três peluches sentados perto da porta.
- Ahh, é a passarola esquisita e os seus companheiros freaks – disse Kon.
- Olha… É o inválido do Kon – respondeu a outra – O que fazes aqui?
E começaram de imediato a discutir como se não houvesse amanhã. “Bonito, mais peluches falantes”, pensou Yǒng Gǎn.
A discussão dos nossos amigos felpudos foi interrompida com a entrada em cena de um homem com um chapéu deveras estranho.
- Calma, calma. Deviam ser todos amigos – dizia o homem que então reparou em Yǒng Gǎn – Ahh, olá. Quem é o meu amigo? Veio visitar a Loja Urahara? Interessado em algum produto? Ou – fazendo uma cara misteriosa – quer uma informação?
- Olá – respondeu Yǒng Gǎn -, sim. Eu estive a falar…
- Com o Isshin Kurosaki. Eu sei – cortou o homem.
- Como é que você sabe? É você o Urahara Kisuke?
- Sim, sou eu.
- E… Como sabe que eu estive a falar com Isshin?
- Para alguma coisa serve o telefone! – disse com um sorriso estúpido na cara.
- Então ele disse-lhe porque é que aqui vim, certo?
- Certamente. Entra Ishi… Quero dizer… Yǒng Gǎn.
Entraram e Urahara levou-o para uma salinha com uma pequena mesa circular e sentaram-se frente a frente.
- Então queres saber a história da tua mãe, certo?
- Sim, é isso – respondeu Yǒng Gǎn.
- Muito bem, vamos começar então. A tua mãe era uma shinigami. Caso não saibas o que é, um shinigami…
- Sim, já sei – cortou Yǒng Gǎn – o Isshin contou-me… Adiante se faz favor.
- Ok. Os shinigamis vivem num sítio chamado Soul Society. Neste local há treze esquadrões de protecção…
Urahara ía contando a história da Soul Society a Yǒng Gǎn, assim como de quase tudo relativo aos shinigamis, para que este percebesse a história da sua mãe.
- A tua mãe – continuou Urahara – fazia parte de um esquadrão especial, há muito extinto. Shinidōbutsu* era o seu nome. Este esquadrão, percebe-se pelo nome, era especialista em animais. Por outras palavras, a verdadeira forma das suas Zampakutous, eram sempre animais. Esta habilidade não aparecia só por aparecer. Isto geralmente era hereditário, passando de geração em geração. Dentro do Shinidōbutsu havia várias divisões, divididas consoante a família, ou a raça, do animal cuja Zampakutou adquiria a forma. Não te enganes se estás a pensar que se dois shinigamis tivessem Zampakutous com o mesmo animal as suas habilidades seriam iguais. Não…
- Ahh! – disse Kon que os tinha acompanhado - Por exemplo, se dois shinigamis tivessem poderes de crocodilo, não teriam os dois o mesmo tipo de habilidades. Se calhar um seria bom a morder e o outro seria bom a nadar!
Enquanto Kon dizia isto, Yǒng Gǎn ía imaginando numa pessoa com mandíbulas de crocodilo. “Que horror!”, pensou.
- Eh, eh, eh, sim… É mais ou menos isso Kon-san. Mas – olhando com um ar ameaçador para Kon – por favor não me voltes a interromper se não tiveres algo construtivo a dizer.
- Errr, sim… Eu… Quero dizer… Desculpa oji-san, não voltarei a fazê-lo.
- Obrigado Kon-san – disse Urahara com um sorriso na cara.
- Mas então – interveio Yǒng Gǎn – o que aconteceu ao Shinidōbutsu? Disseste que este esquadrão foi extinto à muito tempo…
- Sim – respondeu Urahara – As razões que levaram à desagregação deste esquadrão eu não sei. Sei que muitos dos shinigamis de lá foram relegados para o Mundo Real. Outros morreram. Mas, que eu saiba, não sobrou nenhum deles na Sereitei ou mesmo no Gotei 13. Talvez ainda haja vestígios da sua influência em alguns shinigamis, quem sabe…
- Então a minha mãe…
- Sim – confirmou Urahara – a tua mãe foi um dos shinigamis que conseguiu fugir para o Mundo Real. Depois disto, não sei mais sobre ela.
- Eu sei – disse Yǒng Gǎn – estive à procura dos seus vestígios durante os anos em que estive fora de Henan, o sítio onde fui criado. Agora, com esta informação, é só juntar as peças e… voilá! Estive em Portugal, mas lá não encontrei nada de conclusivo, por isso decidi vir a Karakura, pois disseram-me que aqui poderia encontrar respostas. Mas pelo caminho decidi passar pelo Nepal, pois tinha curiosidade em conhecer o país. De facto, encontrei lá algo que não esperava. Numa conversa que tive com um dos monges mais velhos, e conversa puxa conversa, descobri que ele conhecera a minha mãe. Ou que pelo menos já tinha falado com ela. Soube que ela tinha estado lá numa excursão com alguns alpinistas. As coisas que ela fazia acontecer espantavam os monges e os próprios alpinistas. Disseram-me que ela amansava até o mais feroz Xuěbào** que existisse. Esse monge contou-me também que ela ajudou-os a livrarem-se de alguns bandidos que costumavam atacar o seu mosteiro. E ele deu-me uma fotografia dela dessa altura. O velho eremita disse-me que ela sozinha conseguiu fazer aquilo que eles durante anos não conseguiam fazer. Como recompensa ofereceram-lhe este medalhão, que agora é meu – disse por fim Yǒng Gǎn mostrando o medalhão que pertencera à sua mãe.
- Posso ver essa fotografia? – pediu Urahara.
- Claro – respondeu Yǒng Gǎn remexendo no seu saco – Aqui está.
Urahara observou a fotografia, deu um sorriso e, enquanto entregava de novo a fotografia a Yǒng Gǎn, disse:
- É mesmo ela, Yǒng Gǎn. Não há dúvidas. Ela e a sua Zampakutou, Tsume no Yuki.
- Então… A Zampakutou dela era um leopardo das neves?
- Sim – confirmou Urahara – E agora, senão te importas, segue-me. Vamos tratar do teu “algo mais”.
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* Algo como: Shinigami Animal (inventei eu!
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** Traduzido do mandarim: Leopardo das neves
[Para alguma coisa serve o Google Translator, não é?
]